domingo, 14 de fevereiro de 2010

METONÍMIAS COTIDIANAS...

Arte pelo artigo


*Carvalho Junior
poetacarvalhojunior@yahoo.com.br

Pode parecer filosófico ou mesmo uma divinização das artes, mas se trata de uma inquietação, uma reflexão necessária. É muito comum as pessoas soltarem o verbo em lugar inadequado, assim causando um desequilíbrio linguístico. Frases do tipo: “Vou cantar uma música”, “Vou ler uma poesia”, “A Mona Lisa é uma pintura excepcional”, tudo isso me deixa hipocondríaco, com uma ânsia análoga à ânsia. O pior acontece quando o nome das referidas artes é empregado inadequadamente no plural.

As frases anteriormente citadas não são nem um pouco “música” para os meus ouvidos. Não se canta uma música, porque a música está para ser tocada, ouvida e sentida. A música está mais ligada aos aspectos melódicos. Música e letra se juntam para formar uma canção. Chega a ser redundante, mas aquilo que se canta é uma canção (observemos a raiz do verbo). Os termos canção e música são muitas vezes utilizados indistintamente. Será que os sinônimos que usamos têm de fato equivalência? O que há nos nossos CDs, músicas ou canções distribuídas em faixas?

Quanto à poesia, esta é uma qualidade, uma abstração e não aquilo que está escrito no papel. A materialização linguística da poesia é o que devemos chamar de poema. Não devemos dizer que tal livro é uma coleção de poesias, porque o termo poesia só deve ir para o plural quando indicar vertentes de uma mesma poesia. Embora a poesia esteja dentro do poema, o primeiro termo é bem mais amplo do que o segundo.

Com a pintura ocorre o mesmo fenômeno. As pessoas compram um quadro de arte e chamam-no de pintura. A arte ali empregada é que se chama pintura, porém para tal arte se manifestar foi necessário que existisse um pintor e uma tela. Considero isso como uma metonímia de arte pelo artigo. Não quero com isso dizer que está todo mundo errado. No entanto, faço um convite à reflexão para que equívocos de linguagem sejam evitados. Cuidado com o dicionário, ele é pai apenas dos burros. E confessando a vocês, o que mais me irrita nessa história toda é o fato de uns sujeitos presunçosos abrirem a boca para dizer: “Eu faço poesia”.


* Carvalho Junior (autor de Lingüichistes - poemas em portuglês, 2008) é Graduado em Letras e
Especializando em Língua Portuguesa pelo CESC-UEMA.



2 comentários:

  1. - Eu concordo com o seu ponto de vista, mas como se sabe, a "arte" nao esteja na forma, nem tao-pouco no estilo, tão discutido pelos "entendidos" e sim na expressividade do artista. Pois, como disse Jorge Amado: "O importante é libertar-se".

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  2. Obrigado pela visita, Martefran! Procurou-se com tal artigo trazer à baila uma perspectiva questionadora e reflexiva sobre as artes, tendo em vista que um artista tem que ter conhecimento sobre as artes e não ter um pensamento "senso-comum". Abraço

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